Obter o Visto americano é uma daquelas coisas emblemáticas que acontecem na vida da gente, como tirar carteira de motorista ou passar no vestibular. Não é que seja difícil, está mais para angustiante. Justifico esse sentimento porque é algo que não depende exclusivamente de você.
Tudo começou com o agendamento da entrevista. Bastou entrar no site da embaixada, preencher um formulário e requerer uma entrevista. Um boleto foi gerado e depois da confirmação do pagamento eu pude escolher o dia da entrevista.
Teve início então a fase da separação dos documentos, juntamente com uma dúvida atroz: Afinal, o que deveria eu levar para a entrevista? O que será que me pediriam? O site do consulado não ajudou muito e nessa hora, o bom senso e os conselhos de um amigo, o Warlei, me ajudaram bastante. A grande questão é provar que você tem vínculos suficientes com o Brasil, que justifiquem seu retorno. O problema maior é que vínculo é uma coisa muito subjetiva.
Não juntei muita coisa, levei apenas o que julguei estritamente necessário: uma cópia da minha declaração de imposto de renda, carteira de trabalho, os seis últimos extratos bancários, escritura do meu apartamento, documento do carro e de lambuja, uma carta convite de um fornecedor americano da empresa que trabalho.
A pressão e a insegurança foram tão grandes que mal consegui dormir na véspera da entrevista. E se eles não forem com a minha cara? E se me pedirem algo que eu não havia levado? As passagens compradas, o hotel reservado, os compromissos e o fantasma do Tio Sam pairavam sobre meus ombros.
Acordei bem cedo, afinal, o trânsito de São Paulo é imprevisível e minha entrevista estava marcada para oito e meia da manhã. Chegar ao consulado foi tranqüilo e os vários minutos de antecedência só serviram para ampliar mais a minha apreensão. Mas afinal, eu estava com medo de que? Eu sabia que era bobeira, mas era como aquela sensação que antecede uma prova, você sabe que estudou, sabe que está preparado, mas mesmo assim bate uma insegurança.
Tive o cuidado de não levar nada além do necessário junto comigo. Antes de sair do hotel dei uma geral na mochila e só deixei lá a pasta com os documentos. Do lado de fora do consulado, mesmo bem cedo, já havia uma longa fila formada. Foi aí que tive a primeira dúvida: minha entrevista estava marcada para mais de uma hora à frente, deveria eu entrar? A resposta é sim! Havia um funcionário no portão que perguntava o horário marcado, imagino que não há um controle rígido quanto ao horário. Tinha gente de nove e meia entrando junto comigo.
Ao passar pelo portão, a fila dava voltas em uma espécie de mureta e nesse momento, funcionários do consulado (brasileiros), aos berros, orientam as pessoas a ficarem com o bendito formulário DS-160 (preenchido no site e impresso com o comprovante da entrevista). Junto dele deveria ficar também a foto 5×7 (uma odisséia a parte). Essa fila foi muito rápida e na entrada do consulado seguranças verificavam os pertences de todos que entravam. É exatamente como nos aeroportos: um detector de metais e um raio-x para os pertences.
Foi nesse momento que descobri que a “geral” que eu dei na minha mochila não foi bem feita. Esqueci o fone de ouvido do celular em um dos bolsos dela, resultado, tive que jogá-lo fora, haja vista que dentro do consulado não é permitida a entrada de nenhum dispositivo eletrônico. Eles não perdoam nem mesmo chaveiro do alarme de carro. Sorte dos proprietários de guarda volumes do lado de fora do consulado que cobram caro pelo uso de pequenos armários.
É interessante dizer que não se entra de verdade dentro do consulado. Todo aparato de segurança pelo qual passei era para que eu pudesse ter acesso a uma área externa ao prédio. As pessoas caminham até essa área aberta, onde há diversas filas, e centenas de pessoas, parecia um formigueiro. A primeira fila era para verificação do formulário, a segunda para a pré entrevista, a terceira para as impressões digitais e por último uma longa fila para a entrevista.
Todas as vezes que eu imaginei o consulado americano, eu pensava em algo parecido com um banco, com um punhado de cadeiras para que as pessoas pudessem aguardar sua vez e mesinhas onde elas seriam entrevistadas. A realidade se mostrou um pouco diferente. Foi estranho, parecia um balcão de rodoviária com vários guiches. A coisa toda é meio humilhante, tenho que confessar, a entrevista acontece em pé, com uma fila de pessoas atrás de você, escutando todas as informações pessoais que por ventura o entrevistador lhe perguntasse.
Eu estava tranqüilo, só um pouquinho ansioso, mas no fundo estava confiante. Não tinha por que eles negarem o meu visto. O painel eletrônico anunciou a minha senha e me mandou seguir para um dos guichês. Lá, uma pequena fila e um vidro a prova de balas me separavam de uma simpática jovem senhora, que conduzia as entrevistas com um sotaque fortíssimo.
Quando chegou a minha vez, me aproximei e disse: bom dia. Ela respondeu com um sorriso e me perguntou se eu falava inglês. Eu disse que sim e ela continuou a conversa em inglês. Ela me fez poucas perguntas. Parecia que apenas estava conferindo as informações que eu escrevi no formulário. Perguntou-me se eu já havia viajado para outros países, qual seria o motivo da minha viagem, se eu tinha parentes lá nos Estados Unidos, onde eu trabalhava e a quanto tempo.
Respondi as perguntas com convicção e ao final ela me disse a frase que eu estava há três horas esperando para ouvir: “Seu visto foi concedido.” Segui para o lado de fora. Perto do portão por onde entrei haviam alguns guichês. Lá eu entreguei meu passaporte, paguei pelo sedex de retorno – um absurdo de caro, diga-se de passagem – e sete dias depois eu estava com o visto colado em meu passaporte.
Agora era só arrumar arrumar as malas…